Nell, Mary Ann Evans

Veio por troca no Skoob e, olha, a pessoa deve ter ficado tão aliviada por alguém se interessar por essa história! Não foi muito popular, apesar de ter todos os requisitos e deve ter sido muito chacoalhado se alguém criticou.

A edição é da Objetiva, 1995, 217 páginas. Tradução da Eliana Sabino. É o roteiro romanceado do filme de 1994, estrelado pela Jodie Foster. O roteiro original é de William Nicholson e Mark Handle.

Só aí já dá pra entender um pouco a coisa. Não é uma obra complexa, pensada para fazer sentido num livro... o filme já se basta! Mas eu gostei tanto do filme que não resisti. E aí acabei desgostando até do que já tinha gostado. Vejam o trailer:


Nell é uma mulher jovem que viveu durante anos apenas em contato com sua mãe, em um local isolado próximo a uma pequena cidade. A mãe, por ter sofrido um derrame, tinha grandes dificuldades em falar... como Nell só ouvia sua mãe, ela aprende a falar de forma estranha, diferente. Quando sua mãe morre, Nell é descoberta pelo delegado e pelo médico da cidade, começando a ter contato com outros seres humanos adultos pela primeira vez.

Ôôôô ôôô  ôôô  ôôô ôôô ôôô
(Se a Nell fizesse isso, povo escutaria na cidade...)

Tá. Menos uma estrelinha pra esse começo bobo. Quer dizer, como alegoria a gente até desculpa. É Tarzan e Mowgli revisitados, com enredo parecido, mas os descobridores da Nell são um pouco mais cautelosos: decidem observá-la em sua casa, em seu mundo e tentam decifrar sua linguagem antes de decidir se ela é capaz de cuidar de si mesma ou precisa de ajuda, internação, escola, civilização.

Né? Bem melhor!
O filme tem poesia e é interessante como divulgação científica de estudos linguísticos, psicológicos, sociológicos... já que Nell representa o "homem primitivo" e toda a curiosidade que nós temos sobre ele. Ela é o "bom selvagem", o adulto-criança puro ideal, e essa pureza toda me fez desgostar do livro porque, apesar de entender o poder do símbolo, não acho que ela teria tanto poder sobre as pessoas quanto o livro mostra. Nem que ela estaria imune a violações apenas pela "força da inocência". Assisti o filme com 15 anos, na época eu achei tudo isso muito legal e não discuti. Mas hoje meu olhar é totalmente diferente.

A única história consistente da "descoberta da criança selvagem" é o "O livro da selva", do Kipling e cabou. Sempre vou preferir Mowgli, um personagem bem mais complexo, apesar de muito mais irreal. Quando é pra ser alegórico, que seja completo. Senão fica chinfrim.

Se você se interessou pela história, veja o filme. É uma hora e meia e passa rapidinho. Já o livro é irrelevante. Eu até desconfiava, mas essa maldita nostalgia e o amor ao Mowgli...

Bônus track, mini mowgli vida real:
Awwwwwnnn... quero um pra mim!!!
Foto de JeanPaul Rollet, em Angkor, Camboja,
original aqui.

Três estrelinhas e meia para o filme. Em cinco.
Uma estrelinha para o livro. Em cinco.


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Outras resenhas:

O céu dos suicidas, Ricardo Lísias
O caderno vermelho, Paul Auster
Marcas na parede, organização de Hanna Liis-Baxter
Noite e Dia, Virginia Woolf;
A melhor HQ de 1980;
Água para elefantes, Sara Gruen;
Buracos, Louis Sachar;
Preconceito Linguístico, Marcos Bagno;
O livro do contador de histórias chinês, Michael David Kwan
Oriente. Ocidente, Salman Rushdie
A jogadora de go, Shan Sa
Unhas, Paulo Wainberg
- A mulher do viajante no tempo, Audrey Niffenegger
Pinóquio, adaptação de Guilhaume Frolet
Clara dos Anjos, Lima Barreto
O rapto das cebolinhas, Maria Clara Machado
Cozinheiros Demais, Rex Stout

Comentários

  1. Lembro do filme, mas não sabia que tinha livro não. Eu não sei dize se gostei do filme, faz tempo que assisti e ele me pareceu bem estranho, não consegui me "conectar", e era novinho também...

    E nem vou falar nada do Kipling, rsrs, ele sabe.

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